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Por que pausa por coronavírus e Globo preocupam clubes médios e pequenos

Por José Eduardo Martins e Thiago Fernandes
Os clubes de médio e pequeno porte do país vivem um dilema. Os dirigentes estão preocupados com os seus atletas e funcionários por causa do avanço da pandemia do coronavírus. Porém, os efeitos causados pela paralisação dos campeonatos também assusta os cartolas, que não sabem se vão conseguir arcar com os seus custos nos próximos meses. Como não serão realizados jogos, muitos se perguntam se vão receber as verbas referentes aos direitos de transmissão, em geral da Globo.
No caso do Campeonato Paulista, por exemplo, segundo apurou o UOL Esporte, o pagamento é feito mensalmente, em parcelas de cerca de R$ 1,1 milhão para cada clube de pequeno ou médio porte — Corinthians, Palmeiras,Santos e São Paulo recebem valores maiores. Cada parcela serve para bancar praticamente todas as contas de cada equipe. Em contato com a reportagem, a empresa deixou em aberta a discussão.
“Neste momento, acreditamos que o mais importante é apoiar os protocolos definidos pelas autoridades para enfrentar a pandemia do coronavírus. Os cancelamentos de eventos esportivos serão tratados posteriormente com realizadores, clubes e patrocinadores. Estamos certos de que é comum a todos a preocupação maior com a saúde do que com eventuais impactos financeiros”, declarou a comunicação da emissora.
Nem mesmo os clubes que obtiveram sucesso recentemente estão livres dos problemas. Vice-campeão da Taça Guanabara 2020 diante do Flamengo, o Boavista tem uma estrutura organizada. Contudo, mesmo que seja favorável à paralisação ocorrida no futebol, os gestores da equipe sabem que terão dificuldades para honrar os compromissos. Os gastos com a manutenção do time superam os R$ 600 mil por mês, o que inclui folha salarial de atletas e funcionários e custos com as instalações.
O planejamento é feito até abril de 2020. Porém, com a suspensão das partidas, o calendário pode se alongar, o que culminaria em um prejuízo incalculável neste momento. João Paulo Magalhães, gestor do Boavista, se diz favorável à paralisação do esporte. Todavia, faz ponderações sobre o aspecto econômico.
“Estou na torcida para que a nossa população abrace as recomendações do governo. O futebol abraçou como tinha que abraçar para se proteger. É uma aglomeração de pessoas, tanto dentro de campo como do lado de fora. Está certíssimo em parar o futebol”, disse João Paulo ao UOL Esporte.
“Na questão econômica, os clubes pequenos se preparam para ter quatro, cinco, no máximo seis folhas por ano. Quando você se prepara para ter cinco, seis folhas e tem que pagar oito ou nove, gera um ônus incrível. Você não tem torcida, não tem contrato com a televisão. Você fica refém da venda de jogadores. Como o futebol está parado, nem vender alguém você consegue. Não é possível uma venda. Isso gera um déficit muito grande no seu caixa. Seja o coronavírus, ou qualquer outra coisa, você se prepara para ter seis, cinco folhas no ano e, de repente, você tem oito, nove, como você vai cumprir as obrigações?”, indagou João Paulo.
Assim como acontece entre os gigantes, a principal fonte de arrecadação dos clubes de menor porte é com direitos de transmissão. O mecanismo de pagamento, no entanto, é conforme o número de jogos transmitidos pela televisão.
“Times do porte do Boavista, assim como os que jogam o Mineiro, o Gaúcho, o Paulista, vão ficar de olho para cumprir o número de datas necessárias para receber o valor do contrato dos direitos de transmissão. A Globo, quando ela faz um contrato, ela tem um valor por jogo. Todo mundo que compra futebol, compra um número de datas, não só a Globo, como o DAZN e o Esporte Interativo. Não sei como mercado vai reagir em relação a isso”, declarou.
“Não sei qual será a posição da CBF, a mãe do futebol. Será que ela vai ajudar os clubes? Será que ela vai socorrer as federações estaduais com algum tipo de caixa extra para aliviar para os clubes que terão este problema? A CBF sempre ajuda os clubes. Eu não posso reclamar”, acrescentou.
Especialistas em esportes também se mostram preocupados com o futuro destes clubes por causa da paralisação das competições.
“A pandemia provocada pelo Covid-19 provocou uma situação sem precedentes no desporto mundial. Muitos clubes [principalmente os menores, que empregam 90% dos atletas] correm o sério risco de fechar suas portas, mesmo após passado o período de adiamento das competições, cujo término ainda é imprevisível. Mais efetivo do que a mera redução salarial em razão da redução de jornada [permitida mediante acordo individual de trabalho desde a vigência da reforma trabalhista], seria a adoção de medidas coletivas, a fim de que fossem evitados questionamentos futuros”, afirmou Mauricio Corrêa da Veiga, sócio do Corrêa da Veiga Advogados.
Fonte: UOL